domingo, 22 de novembro de 2009

Tuitar ou ajudar

No jornalismo, há uma cena famosa: em algum canto esquecido da Somália, um bebê recém-nascido está prestes a ser engolido por um abutre. Confrontado com a cena espetacular do ponto de vista jornalístico, o fotógrafo Kevin Carter registra a imagem, vira as costas e vai embora. A foto ganhou vários prêmios internacionais entre eles um Pulitzer , mas Carter se suicidou ao não suportar cada vez que alguém lhe perguntava: E o que você fez pela criança?.

O episódio é contado nas redações e faculdades para ilustrar um drama ético do jornalista: registrar o fato ou salvar a criança?

No século 21 das redes sociais, há outros personagens e plataformas, mas o dilema é quase o mesmo: tuitar ou salvar uma vida? A discussão está em sites dos EUA, depois que vários soldados de Fort Hood aproveitaram para descrever minuto a minuto no microblog da internet o massacre na base militar, onde um major abriu fogo contra colegas. Em outro caso, um vídeo no YouTube mostra um menino sendo espancado, enquanto a pessoa que gravou observa o ato, passivamente, gravando-o com sua câmera. Muitos viram nesses episódios o princípio de uma ética torta, na qual as pessoas estão mais preocupadas em fazer a foto do que em “salvar a criança”. Como sempre, a ferramenta não é, em si, boa ou ruim, mas o uso que se faz dela determina o tipo de seres humanos que somos. O mesmo Twitter que revela as barbáries das ditaduras, dando voz às vítimas, é o que denuncia uma sociedade cada vez mais individualista. Afinal, nada indica que seria impossível, na África, registrar a foto e, depois, pegar a criança e levá-la consigo.


Extraído de Diários do Mundo (Zero Hora - 22/11/2009)

O CARA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo