terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Dor Que Dói Mais!

Nunca fui um apreciador dos livros,e como minha pretenção futura é de me tornar um jornalista, isso é um grande problema.
Sempre que alguêm me fala que para ser um bom escritor é nescessário devorar os livros me vem a cabeça a imagem do chaves comendo os livros... literalmente. Mas de uns tempos para cá mudei um pouco meus habitos e agora estou tentando devorar os livros,mas no sentido figurado. Comecei a ler autores gaúchos.Comecei com meu ídolo: O "putanheiro" David Coimbra.Acabei de ler na semana passada o romance canibais,que contava
a história dos crimes da rua do arvoredo (O Sweeney Todd Brasileiro).Pois Bem,agora estou lendo um livro de crônicas da Martha Medeiros,cronista do Jornal Zero Hora. Hoje folhando o livro, me deparei com uma crônica com o seguinte título: A Dor Que Dói Mais.
É uma bela crônica.Tão bela que resolvi compartilhas com os leitores do café.
Espero que gostem.


A Dor Que Dói Mais!

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.


Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.


Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.


Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.


Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.


Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


Martha Medeiros.

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